Eu e meus dixotes

Minha foto
Salvador, Bahia, Brazil
Eduardo Vasconcelos

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Do começo ao fim

Quem esperava um soco na boca do estômago, vai sair do cinema após assistir "Do começo ao fim" com algum grau de frustração. O soco está muito mais na temática do filme (incesto homossexual) do que na abordagem de Aluizio Abranches. A densidade que muitos esperavam a partir da divulgação dos trailers no Youtube vai se diluindo a cada cena do filme. Os conflitos inerentes ao tema inexistem no longa. O fato é que tudo no filme é lindo... os dias são lindos, as pessoas são lindas, a vida é linda. Todo mundo é rico, bem sucedido, bem resolvido. Tudo é extremamente natural.
As crianças Francisco e Tomás são meio irmãos que, desde a infância, desenvolvem um "laço intenso de afetividade e intimidade". Não... nem se preocupem... os atores mirins não foram expostos a nenhuma cena que vá de encontro à nossa "moral"... e isso já tira um pouco da credibilidade do filme. Fica difícil imaginar qualquer relação incestuosa a partir daqueles carinhos normais e típicos de irmãos que se divertem juntos enquanto são crianças. Ou seja, não fica claro no filme qual o ponto de partida para a relação dos dois e como isso foi processado na cabeça das crianças.
Os pais insinuam uma desconfiança, mas tudo para por aí... de repente só sobra na história o pai de Tomás (Fabio Assunção) e tudo ja está super resolvido. Discussão familiar? Crise existencial? Rejeição? Imagina! Tudo de boa! Tanto que o pai sai de casa para deixar os dois irmãos, já adultos, com a casa onde cresceram e desenvolveram sua história de amor.
Ok! Distante da realidade né? Pois é... parece que gostar ou não do filme vai depender do estado de espírito de cada espectador. Alguns vão defender alegando que é válido discutir esses temas sem uma carga negativa tão intensa, para não reforçar o cruel preconceito de sociedade. Talvez o objetivo seja despertar a reflexão pela harmonia e não pelos conflitos. Outros (a maioria, provavelmente) vão achar esse romantismo tão utópico que farão questão de criticar duramente o desperdício da oportunidade de se colocar os pontos nos "is" da questão do incesto e da homossexualidade.
Se você estiver em uma fase romântica, carente, se jogue de cabeça no conto de fadas. É direito seu e ninguém pode lhe criticar por isso. Creia que em algum momento chegaremos a esse nível de evolução. Agora, se você já levou umas chicotadas da vida e já não enxerga essas questões com tanta purpurina, você vai assistir ao filme e ele não vai acrescentar quase nada à sua vida real... ali é tudo perfeito demais e fica difícil crer que possa ter algum fundo de verdade.
Mas... pela coragem e por levantar essa pauta, o filme vale a pena ser visto sim! Julia Lemmertz é ótima! Os atores que vivem o personagem Tomás são péssimos (Gabriel Kaufman por culpa de quem o preparou e Rafael Cardoso porque é ruinzinho mesmo). Os que vivem Francisco são mais convincentes (apesar da maturidade e serenidade daquele pirralho serem irritantes - culpa do texto).
E vale ressaltar que, mais uma vez, o destaque do filme é a reação da platéia. Hoje foi tudo tranquilo... que foi ao cinema ja tinha noção do que se tratava. Com exceção de um casal de voinhos... ele todo mancando, barrigudinho, com o cabelo aaaalvo... ela segurando ele pelo braço pra ajudar a subir os degraus... coisa mais linda! Mas não avisaram sobre o que era o filme né gente... foi instantâneo... na primeira cena de nudez explícita e sexo entre os irmãos, os voinhos se retiraram do cinema. Provavelmente foram direto à farmácia Santana comprar um Captopril e um remedinho pro coração. Pra eles, aquilo deve ter sido um murro no baço! Tadinhos...

Nenhum comentário:

Postar um comentário